28 de fevereiro de 2015



Me deixei render aos comentários de todos .,e aí vai...
Após assistir ao filme Cinquenta Tons de Cinza resolvi compartilhar um ponto de vista que não o concebe como um conto de fadas (príncipes não machucam princesas) e nem se detém ao politicamente correto de que um homem jamais poderia bater numa mulher.
Já havia me chamado a atenção, no ano passado, a quantidade de pessoas – especialmente mulheres – de vários países, que devoraram os três volumes desse enredo restrito à turbulenta relação de Christian Grey e Anastacia Steele. Tirei o foco da violência contra as mulheres e pensei em alguns aspectos emocionais presentes nesse relacionamento provocativo capaz de exercer tamanho fascínio ou repúdio. Algumas pacientes, inclusive, manifestaram seu desejo de encontrar um parceiro como Christian. Provavelmente porque para além da riqueza, do luxo e dos mimos sedutores, estamos diante de um encontro emocional profundo e transformador.
Explico: as experiências primárias da vida de uma pessoa deixam um registro no inconsciente de todos. O amor e/ou o desamor tem início na dupla mãe-bebê. As experiências afetivas dos primeiros anos formam uma matriz de um modo de se relacionar que direciona a vida amorosa dos adultos.
Christian carrega no corpo marcas de queimaduras de cigarro como um registro da violência sofrida em seus primeiros anos: uma mãe viciada em crack que também o deixou passar fome. Essas marcas são o retrato das feridas em sua alma. Ele não permite que elas sejam tocadas. Tocar seu corpo é como colocar o dedo nessas feridas fazendo-o sangrar e reviver uma dor intensa. Christian não pode se livrar delas assim como não pode apagar sua história de abuso, de privação, de maus tratos e de desamparo. Ele apenas comunica sua tristeza através das melodias tristes que toca no piano desde muito pequeno. Como defesa frente ao sofrimento e à baixa autoestima, processos psíquicos inconscientes complexos fizeram com que ele desenvolvesse uma personalidade arrogante junto a um narcisismo defensivo. Não é por acaso que ele se utiliza de penas de pavão para acariciar e excitar suas “presas” – penas lindas e coloridas de um animal que ao se exibir é capaz de capturar o olhar de admiração de todos à sua volta. Faltou-lhe, na verdade, um olhar colorido de uma mãe amorosa que refletisse para ele – tal como um espelho - o seu verdadeiro eu. Um olhar constitutivo que pudesse atribuir um sentindo à sua existência. Ao contrário dessa experiência tão importante, Christian refere-se a um mundo interior composto por uma variação de tons de cinza - uma alusão à vida nebulosa que teve, a um contato frio, destituído de afeto e depressivo.
Seus pais adotivos, apesar de amorosos, não conseguiram construir uma relação de intimidade com o filho. Christian volta a sofrer abusos aos 15 anos de idade – dessa vez ligados à esfera sexual – por parte da melhor amiga de sua mãe. Viveu uma relação que se estendeu por seis anos sem ao menos despertar-lhe alguma suspeita do que se passava diante de seus próprios olhos. Assim, a atuação da violência de Christian tem raízes naquelas as quais ele próprio esteve submetido em diferentes momentos da sua formação física, psíquica e emocional. Identificado aos agressores, numa espécie de jogo do contrário, ele passou da impotência à onipotência. O exercício de um controle extremo sobre os outros e do impulso de dominação podem ser compreendidos como uma vingança e como uma compensação de um caos interior. Ao evitar pensar na sua dor emocional ele a coloca na ação. De masoquista ele passa a atuar de forma sádica – ambas faces da mesma moeda. A vida de Christian transcorre dessa maneira até ele conhecer Anastacia. Sua proposta dos jogos sadomasoquistas sofre um abalo quando ele fica sabendo da sua virgindade. Uma virgem parece ter-lhe despertado um anseio de iniciar um relacionamento zerado, fazer um recomeço. Ele busca reparar o impacto de pedir a ela que assine um contrato de permissão para práticas sexuais severas, tratando-a com carinho em sua primeira vez. Desde o início há a presença de um erotismo marcado pelos olhares penetrantes que denunciam a paixão cativante de ambos. Christian num discurso convicto de não “fazer amor” mas de apenas “foder” nega o seu mergulho gradativo e curioso no mundo emocional de Ana e no seu. Ela, com sua meiguice e sinceridade, o leva a baixar a guarda e a se permitir experienciar um novo tipo de ligação. Pela primeira vez ele dorme na mesma cama com alguém, fala sobre lembranças do passado, de seus pesadelos. Pela primeira vez ele parece se sentir com coragem de tocar em suas feridas e com o tempo a autoriza a tocá-las. A entrega de Ana ocorre após ela responder que confiava nele. Na verdade, os dois vão construindo uma relação de confiança básica necessária para a descoberta de vínculos verdadeiramente amorosos.
As dificuldades de uma pessoa encontram caminhos distintos para serem superadas. Um deles é a reparação. Por exemplo: Christian que passou fome na infância, ajuda crianças vítimas da fome na África fazendo generosas doações. Na vida amorosa a reparação pode ocorrer através de uma relação nova, esperançosa e diferente daquelas carregadas de sofrimento. Experiências compartilhadas permitem a descoberta do amor dentro e fora de si. Esse encontro acontece entre Christian e Ana desde o início. Ambos ficam absortos um no outro interessados em desvendar os mistérios de cada um.
Ana se arrisca. A mãe amorosa de Ana deixa de ir à sua formatura optando em ficar em casa com o atual marido que tinha se machucado. Ana parece não ser tão especial para a mãe quanto seus maridos.
Nessa perspectiva, o encanto que Christian provoca em Ana, e parece repercutir em muitas almas femininas, parte da presença constante dela na mente e no coração dele. Existir para alguém é ocupar um lugar especial na vida de uma pessoa e no mundo - uma necessidade humana importante. Esse desejo se potencializa naqueles que tiveram esse tipo de falha em suas primeiras vivências. O desejo passa a ser então o de ter um olhar dedicado, com sintonia e sonho – uma nova edição - tal como uma boa mãe devotada ao seu bebê. A experiência de continuidade e a empatia de Christian e de Ana os levam a ir ao encontro das necessidades físicas e emocionais um do outro, reparando certos danos que sofreram no passado. Bem maior que o valor material dos presentes que ele lhe dá, é esse valor afetivo da presença de um dentro do outro.
Não é novidade para ninguém que os relacionamentos amorosos são complexos e todos os encontros inéditos. Os comportamentos sádicos e masoquistas, entre outros tipos de perversão, fazem parte do imaginário coletivo. Aqueles que desconhecem esses seus impulsos naturais podem desenvolver patologias neuróticas por vezes bastante dramáticas. Relações amorosas não seguem uma cartilha, não se encaixam em padrões normativos e julgamentos morais limitam a nossa compreensão. Como Christian e Ana, as pessoas que se arriscam encontram maneiras próprias de conviver com seus desejos contraditórios, com o prazer e a dor. Quero ressaltar que conhecer os próprios impulsos não é sinônimo de sair por aí maltratando, machucando e violentando verbalmente e fisicamente ninguém. Mas poder sentir-se livre da culpa gerada pelas fantasias que perturbam muita gente. É aceitar a condição humana composta não apenas de sentimentos e pensamentos nobres, bondosos e generosos. Claro que eles também existem. E na maioria dos casos predominam. Entretanto, impulsos de vida e de morte coexistem e não são fáceis de serem administrados individualmente e nem na relação com o outro. Portanto, não há de se esperar que os relacionamentos transcorram de forma linear. São dinâmicos cheios de curvas, atalhos e por vezes, abismos, destoando da paz paralisante de uma estrada reta que muitos gostariam de encontrar. Nesses termos esse filme perturba e atrai por revelar tais contradições. As pessoas se identificam nas vivências de amor, de desamor e podem se remeter à própria história - já que não existe um ser humano sem a sua história.
Ana testa seus limites e termina o relacionamento com Christian quando sente que ele os ultrapassou. Essa atitude estabelece um limite necessário para o surgimento do novo. Ele parece que não contava com isso. A partir da separação ele não consegue mais manter a negação acerca de seus sentimentos e volta a procurá-la. Ana surge em sua vida como uma esperança de ele encontrar uma luz em seu universo sombrio.Tere Yadid Sztokbant



17 de fevereiro de 2015

Não exija que a criança compreenda tudo antes do momento certo

O ser humano leva 21 anos para adquirir maior consciência das coisas. Esse tempo é o tempo que o sistema nervoso central leva para mielinizar todas suas células nervosas, isto é, deixa-las maduras. Essa bainha de mielina é a responsável pelas conexões nervosas (sinapses) entre os neurônios. Nos primeiros anos de vida, até a troca dos dentes, por volta dos seis anos, a mielinização para a aprendizagem está sendo formada. A consciência da criança está ainda num estado de sono nesta etapa da infância,ou seja, ela não tem consciência das coisas como nós adultos já a temos. Por isso que a criança é criança e depende de nós para tudo. Ela não tem discernimento, crítica e julgamento ainda sobre as coisas da vida. Ter consciência significa fazer as sinapses entre os neurônios. Nas sinapses há um dispêndio de energia muito grande. Por isso que quando prestamos atenção em algo ou

16 de fevereiro de 2015

Motivos pelos quais as crianças fazem birra e como lidar com elas.

É inevitável. Cedo ou tarde, seu filho vai protestar contra alguma regra ou pedido que não foi concedido da pior maneira possível: chorando, gritando ou atirando-se no chão. Se for em público, o espetáculo costuma ser mais teatral ainda. Mas, por que, de repente, aquela criança tão amável se comporta assim? “A birra é simplesmente uma maneira de a criança demonstrar seu desacordo com o que o adulto determinou. Trata-se de uma manifestação comum, pois ela está aprendendo a viver em sociedade, o que implica seguir normas”, explica a pedagoga Neide Noffs, coordenadora da Faculdade de Educação da PUC-SP. Ela lembra que ninguém gosta de ouvir ‘não’. “A nossa primeira reação é contrariar, a segunda é refletir e, só na terceira é que, provavelmente, vamos ouvir. Se formos compreendidos e tratados com respeito diante da nossa frustração, as chances de mudarmos de ideia são maiores, certo?”. Com as crianças ocorre o mesmo. Portanto, antes de perder a razão, lembre-se de que o seu filho ainda é imaturo emocionalmente e, somente por volta dos 8 anos de idade, saberá enfrentar melhor as frustrações que a vida lhe impõe. Em geral, de acordo com a especialista, as crises acontecem fora de casa, exatamente porque o filho quer chamar a atenção e testar os pais, na tentativa de conseguir que suas vontades sejam atendidas. E o que faz com que algumas crianças sejam mais birrentas do que outras? Em parte, o comportamento é explicado pela personalidade, mas também há uma influência da reação dos pais. Veja, a seguir, como reagir diante de um ataque de fúria. O que fazer Desde os primeiros meses de vida, o bebê entende que, se chorar, será acolhido ou dará um fim àquilo que o incomoda (fralda suja, fome, frio, etc.). Mas isso não significa que está fazendo manha, é apenas uma maneira de se manifestar. “A partir do primeiro ano, entretanto, os pais devem ficar mais atentos para não treinar comportamentos negativos”, orienta a psicóloga Lidia Weber, professora da professora da UFPR e autora de “Eduque com Carinho” (Ed. Juruá). Como ceder ao choro e deixar o bebê brincar com um um objeto potencialmente perigoso, por exemplo. Uma vez que os pais cedem – seja por cansaço, culpa ou para evitar a birra em público– , a criança aprende que, dessa forma, terá tudo o que quiser e na hora que quiser, segundo a psicóloga. A recomendação é, em todas as idades, ignorar a birra. “Simplesmente vire as costas e continue o que estava fazendo”, sugere Lidia. Caso seu filho exagere e se jogue no chão no meio do shopping ou do supermercado, leve-o para outro lugar (para casa, de preferência), a fim de acalmá-lo. Já se ele estiver machucando a si mesmo ou a outras pessoas, é preciso intervir. Segure-o e, olho no olho, diga ‘não’ com firmeza. Jamais aos gritos ou com violência. Faça combinados Tente antecipar as situações que podem levar a uma crise de birra. Antes de sair de casa, explique aonde vão e como seu filho deve se comportar. Além disso, conte quais podem ser as consequências, positivas e negativas, para cada atitude que ele tiver. Mas também tenha em conta os limites da criança. Não adianta levá-la às compras durante horas. Ou, se ela costuma tirar uma soneca após o almoço, mantê-la acordada sem pausa. Em algum momento, ela vai ficar cansada e impaciente. Aí, é mais provável que um surto de birra venha à tona. Sheila Soares

11 de fevereiro de 2015

Narrativa do Mito de Eros e Psique!
Correndo o risco de ser enfadonho, vou publicar hoje a narrativa do mito. Me explico: De que adianta publicar uma análise e comentar se pode ter gente que não conheça o mito? Então, aos que já conhecem: Perdão! Mas vou contar a historinha ... rs O MITO. “Uma história de amor e ódio” EROS é o amor personificado; o desejo dos sentidos. PSIQUE é igualmente a alma personificada. “Em certa civilização havia um rei e uma rainha que tinham três filhas lindíssimas. As duas mais velhas, ainda que fossem também muito belas, podiam perfeitamente ser celebradas por louvores dos homens, mas não havia linguagem humana capaz de descrever ou pintar a formosura extraordinária da mais moça. Muitos a proclamam como a nova deusa do amor, ameaçando assim o trono da soberana Afrodite, mãe de Eros. Preterida e abandonada a deusa planeja e prepara a vingança contra a jovem Psique, formosa, bela e sedutora da alma e da inteligência humana. “Uma beleza metafísica”, assim é Psique. Ao par do perigo que a cerca, a Grande Mãe, impulso físico do mundo, Afrodite, querendo evitar o confronto de beleza, a deusa chamou seu filho Eros, menino alado e de maus costumes, corruptor da moral pública e provocador de escândalos, o desejo dos sentidos, e deu-lhe uma incumbência urgente. Levou-o à região onde vivia a linda Psique, e pediu-lhe que a fizesse apaixonar-se pelo mais horrendo dos homens. Sim, porque Eros simboliza o Cupido, Sagitário, o arqueiro do amor, que com suas flechas “envenenadas” espalha o amor em todos quantos consegue atingir, sem distinção, fazendo juntar e separar casais e “si mesmos”, que se gosta e desgosta de acordo com as correntezas ou maresias do amor e a necessidade constante de fugir ao ódio ou a morte de si. Beijou-o, muitas vezes, com os lábios entreabertos e retornou ao seu habitat preferido, o bojo macio do mar. O rei, casadas as duas filhas mais velhas e temendo, como Liríope, a cólera dos deuses por causa da beleza da mais jovem, mandou consultar o Oráculo de Apolo em Mileto. A resposta do deus foi direta e aterradora: Psique, coberta com uma indumentária fúnebre, deveria ser conduzida ao alto de um rochedo, onde um monstro asqueroso com ela se uniria. Eros, entretanto, que em lugar de ferir com suas flechas a jovem donzela, havia sido ferido por ela, ordenou ao vento Zéfiro que a transportasse para um vale macio e florido, que se estendia na orla da montanha. Após descansar de tantas emoções e restaurada faltando um sonho vivificador, a jovem princesa se ergueu e viu logo, cercado por um bosque, à beira de uma fonte, um palácio de sonhos: as paredes eram recamadas de baixos-relevos de prata; o pavimento, confeccionado de mosaicos de pedras preciosas; os imensos salões tinham paredes de ouro maciço. Naquela mesma noite da chegada da princesa ao vale dos encantos, Eros, sem se deixar ver, fez de Psique sua mulher, mas, antes do nascer do sol, desapareceu rápida e misteriosamente. Toda noite Eros voltava ao vale e desposava a princesa e partia incógnito e a jovem acabou por acostumar-se à sua nova existência: as Vozes, atentas e solícitas, apaziguavam-na da solidão. A Fama, uma divindade que simboliza “a voz pública”, fofoqueira, porém, denunciou a aventura de Psique e as irmãs casadas, tristes e cobertas de luto, deixando seus lares, apresentaram-se em visitar e confortar os pais. Eros pressentiu a ameaça que pesava sobre a felicidade do casal e avisou a esposa do perigo iminente: as irmãs, dentro em pouco, viriam até o rochedo para chorá-la. Psique deveria fazer ouvidos moucos ás suas lamentações e nem sequer “olhar para ela”, para não incidir no mesmo erro de Orfeu... A jovem esposa tudo prometeu, mas tão logo o amante retirou-se, incógnito com sempre, Psique se viu mais que nunca prisioneira da própria felicidade, impedida de consolar e até mesmo de ver suas irmãs (fofoca). Usando de persuasão e muita astúcia e sedução, Psique consegui arrancar do esposo permissão não apenas para vê-las, mas ainda o consentimento para que Zéfiro as transportasse até seu palácio paradisíaco. Entorpecido, Eros concordou com tudo, mas recomendou-lhe e implorou que jamais tentasse ver-lhe o rosto, por mais que as irmãs insistissem nesse ponto. O encontro, a princípio, foi uma festa, um êxtase. às Lágrimas de dor sucederam as manifestações de alegria e regozijo. Persuadida pelo o ambiente do encontro, a ingênua Psique ia-lhes abrindo os segredos de sua doce ventura, a abundância de suas riquezas, as sementes da inveja começaram a germinar-lhes no coração. Embaraçando-se cada vez mais com as perguntas de uma das irmãs, Psique tratou-se de inventar respostas e, cumuladas as irmãs de ouro e joias, fez que Zéfiro as levasse de volta ao rochedo. Mas agora envenenadas pelo fel da inveja, começaram a questionar e confrontar a vida delas com o destino luminoso da irmã mais jovem. Eros, naquela mesma noite, voltou a advertir a esposa: Não vês o perigo que de longe te ameaça ? Se não procederes com a máxima cautela, o destino se abaterá sobre ti. As bruxas traiçoeiras esforçam-se porte armar uma cilada e a pior armadilha é persuadir-te a contemplar meu rosto. Já te adverti muitas vezes de que nunca mais o verás, se o contemplares uma única vez (...) Dentro em breve teremos um filho. Ainda uma menina, dará à luz uma criança. Se guardares nosso segredo, ela será um deus; se o propalares, será tão-somente um ser mortal.Os dias se passaram rápidos e o esposo noturno voltou, desta feita, mais incisivo em admoestá-la de que chegara o momento decisivo: as bruxas já se aproximavam, prontas para destruir-lhe a paz e a felicidade. “Deixa-as uivar do cume do rochedo, como as Sereias, com sua voz fúnebre”. Novas lágrimas de Psique, novas promessas, novas juras de amor e o deus apaixonado novamente se curvou aos caprichos da esposa. As conspiradoras, entretanto, tal era a presa em executar seu plano sórdido, tão logo chegaram ao alto do rochedo, nem mesmo esperaram faltando Zéfiro, lançando-se temerariamente no abismo. A contragosto, o Vento as acolheu e depositou no solo. Com fingida alegria congratularam-se com a irmã pela gravidez, conseguindo, desse modo, desfazer qualquer suspeita. Em seguida, vieram as perguntas, sempre as mesmas: queriam saber quem era o marido de Psique. Esta, em sua ingenuidade, se contradisse: na primeira visita dissera-lhes que o esposo era um jovem lindíssimo e agora o descreveu como um homem de meia-idade, um riquíssimo comerciante. Era o que lhes bastava: ou a irmã estava mentindo, e o marido era um deus, ou ela simplesmente ignorava seu aspecto. De qualquer forma, era preciso destruir a prosperidade de Psique. Passaram uma noite em claro em casa dos pais, matraqueando o plano que deveria ser colocado em prática, já pela manhã, estavam novamente no palácio de Eros. Com fingida e cínica preocupação, mostraram à irmã o perigo que a ameaçava. Quem à noite se deitava a seu lado não era um homem, mas uma serpente enroscada em mil anéis, com as faces túrgidas de peçonha, a boca larga como um abismo. Lembraram-lhe o Oráculo de Apolo que a predestinava a unir-se a um mostro, reforçando seu intento diabólico com a mentira: a medonha serpente, segundo camponeses e caçadores da região, têm sido vista à noitinha, atravessando o rio vizinho em direção ao palácio. O mostro aguardava apenas o momento oportuno para devorá-la, bem como à criança que ela trazia no ventre. Elas, porém, as irmãs, ali estavam prontas para ajudá-la! Transtornada, Psique confessou-lhes a verdade: jamais contemplara o rosto do marido e pediu-lhes súplice que a protegessem e assistissem. Vendo que tudo estava aparelhado para o plano sinistro, há muito arquitetado, uma das bruxas o transmitiu à insegura e desditosa esposa de Eros: deveria ela preparar um punhal bem afiado e um candeeiro de luz bem forte. Quando a “serpente imunda” mergulhasse em sono profundo, seria o instante propício: iluminar-lhe cuidadosamente o rosto e de um só golpe cortar-lhe a cabeça. Embora tivessem prometido que permaneceriam a seu lado, até a “execução do mostro”, tão logo perceberam que o veneno fizera seu efeito, apressaram-se em deixá-la. Sozinha, com o espírito transtornado, Psique se agita e parece decidida a perpetrar o crime, mas eis que subitamente hesita, depois resolve; vacila outra vez, desconfia das irmãs, se enfurece, lembra-se dos ternos abraços do esposo... Seria ele, realmente, uma serpente imunda ? Psique num mesmo corpo odeia o monstro e ama o marido. Eis a ambiguidade do amor ; monstro ou fada, medo e curiosidade. Eros a seu lado dormia tranquilamente. Como fora de si, a jovem esposa reuniu todas as suas forças: numa das mãos o candeeiro, na outra o punhal. Muito de leve aproximou a luz do rosto do marido. Estava revelado o grande segredo: viu a mais delicada, a mais bela de todas as feras. Eros, o deus do amor, ali estava diante de seus olhos. Tomada de pânico, a jovem quis matar-se, mas o punhal se lhe escorregou da mão. Percebendo ao lado do leito a aljava e as flechas do deus, ao tocá-las, acabou ainda por ferir-se com uma delas. Agora, mais do que nunca, sua paixão seria eterna. Inflamada de amor, inclina-se sobre ele e começa a beijá-lo como louca. Esquecida do candeeiro, deixa-o curvar-se em demasia e uma gota de azeite fervente cai no ombro do deus adormecido. Eros desperta num sobressalto e, ao ver desvendado seu segredo, levantou voo no mesmo instante; sem dizer uma só palavra, afastou -se rapidamente da esposa. Esta ainda tentou segui-lo através das nuvens, segurando-lhe a perna direita, mas, exausta, caiu ao solo. Foi então que, descendo das alturas celestiais e pousando num “cipreste”, Eros falou à sua amada: Quantas vezes não te admoestei acerca do perigo iminente, quantas vezes não te repreendi delicadamente. Tuas ilustres conselheiras serão castigadas em breve, faltando suas pérfidas lições; quanto a ti, teu castigo será minha ausência. Estava decretado o início do itinerário doloroso de outra Psique. Fora de si, a princesa, desejando morrer, lançou-se às correntezas de um rio próximo, mas as próprias águas, numa corcova, repuseram-na em terra. Para nosso propósito a narração do Mito em si encerra-se aqui . Amanhã, postarei comentários e análise do mito. Fraterno abraço;